Nós de corda na segurança em altura: como escolher, usar e padronizar os principais nós para ancoragem, linha de vida e resgate

Trabalhar em altura exige mais do que equipamentos PPE, talabartes e linhas de vida. Um componente crítico e por vezes negligenciado é o nó de corda que conecta o profissional ao ponto de ancoragem, à linha de vida ou ao sistema de resgate. Um nó mal escolhido ou mal executado pode comprometer toda a segurança da operação.

Neste artigo, vamos explorar os principais nós utilizados em segurança em altura para ancoragens, união de cordas, sistemas de subida/descida, pontos intermediários e distribuição de cargas, quando e por que usar cada um, os erros comuns, como padronizar a equipe e treinar.

Por que os nós importam

  • Cada nó altera a resistência da corda: testes indicam que determinados nós reduzem a força da corda em mais de 40%.

  • Um nó mal feito ou mal escolhido pode deslizar, se soltar ou danificar a corda, gerando risco de queda, falha de resgate ou fadiga do material.

  • Podemos ter excelentes ancoragens, cordas certificadas, mas se o elo (o nó) for fraco todo o sistema fica comprometido.

O objetivo deste artigo é oferecer uma visão completa e prática sobre o uso dos nós em trabalhos em altura, detalhando a função de cada tipo, suas aplicações típicas, a técnica correta de execução e os principais cuidados que garantem segurança e eficiência durante as operações. Além de apresentar os nós mais utilizados, como o nó oito, o nó de fita, o pescador duplo, o prusik, a volta do fiel, o borboleta e o nó coelho, o conteúdo busca relacionar cada um deles com as diferentes situações de trabalho em altura, como sistemas de ancoragem, linhas de vida, resgate, operações de subida e descida, junção de cordas, criação de pontos intermediários e distribuição de carga.

Principais nós e suas aplicações

Para cada nó, apresentamos: uso típico em segurança em altura; técnica resumida; pontos de atenção; quando não usar.

1. Nó Oito (Figura-oito)

 

O nó oito é amplamente utilizado em trabalhos em altura por sua resistência, simplicidade e facilidade de inspeção visual. É indicado para amarração da corda em pontos de ancoragem ou passagem por conectores como mosquetões e argolas. Garante fixação firme, baixa probabilidade de deslizamento e é adequado tanto para cargas estáticas quanto dinâmicas. Além disso, preserva grande parte da resistência original da corda, sendo uma escolha segura e padronizável para as equipes de campo.

Técnica passo a passo

  1. Segure a ponta da corda e forme uma alça.

  2. Passe a ponta por trás do corpo principal e volte-a para dentro da alça, formando um “8”.

  3. Insira a ponta no ponto de ancoragem (mosquetão, argola etc.).

  4. Refaça o trajeto do “8” original em sentido inverso, copiando o caminho do primeiro nó.

  5. Ajuste o nó puxando ambas as partes da corda até que fique simétrico.

  6. Mantenha uma sobra de cauda de pelo menos 10 a 15 cm.

Pontos de atenção

O nó deve estar bem vestido, com as voltas paralelas e sem cruzamentos. Um nó mal formado reduz a resistência e pode se soltar sob carga. A cauda precisa estar visível e firme. Cordas de diâmetro grande ou materiais muito rígidos exigem cuidado extra, pois dificultam o assentamento correto do nó. Sempre inspecione o nó após uso intenso ou impacto, pois o aperto excessivo pode comprometer a integridade da corda.

Quando evitar ou limitar

Evite usar o nó oito em situações com alta carga dinâmica, como quedas ou resgates com absorção de impacto, pois ele não dissipa energia adequadamente. Também não é indicado quando o comprimento de corda é limitado, já que consome mais material para ser confeccionado. Não deve ser usado para unir duas cordas, apenas em extremidades com direção de força previsível.

2. Nó de Fita (ou Nó de Água)

O nó de fita é utilizado para unir as extremidades de fitas tubulares, formando anéis ou laços de ancoragem. É comum em sistemas de ancoragem temporária e em situações que exigem junção rápida e segura de fitas planas. Por ser simples e oferecer boa resistência quando corretamente ajustado, é amplamente empregado em trabalhos em altura e resgates com fitas de poliéster ou poliamida.

Técnica passo a passo

  1. Faça um nó simples em uma das extremidades da fita.

  2. Pegue a outra extremidade e siga o trajeto do nó original em sentido inverso, copiando exatamente o caminho.

  3. Puxe as duas extremidades em direções opostas para apertar o nó.

  4. Deixe uma sobra de pelo menos 10 cm em cada extremidade.

Pontos de atenção

O nó deve estar bem ajustado e com as voltas planas, sem torções. Fitas tendem a escorregar mais do que cordas, portanto é essencial apertar bem e inspecionar antes do uso. Evite fitas com desgaste, desfiamento ou danos visíveis. Verifique também se o nó não está posicionado sobre bordas cortantes ou pontos de atrito.

Quando evitar ou limitar

Evite usar o nó de fita para unir cordas redondas, pois ele foi projetado apenas para fitas planas. Também não deve ser utilizado em fitas muito finas ou de materiais com baixo atrito, onde há risco de escorregamento sob carga intensa.

3. Nó de Pescador Duplo

O nó de pescador duplo é utilizado para unir duas cordas entre si de forma segura e permanente. É muito empregado em linhas de vida, extensões de corda e resgates, devido à alta resistência e confiabilidade.

Técnica passo a passo

  1. Sobreponha as duas cordas paralelamente.

  2. Com a ponta de uma corda, dê duas voltas completas ao redor da outra e passe a ponta por dentro das voltas formadas.

  3. Repita o mesmo procedimento com a segunda corda.

  4. Puxe ambas as cordas principais até que os nós se encontrem e fiquem firmes.

Pontos de atenção

Após o aperto, o nó se torna muito difícil de desfazer, portanto deve ser usado em uniões permanentes. Deixe sempre sobras generosas nas pontas (mínimo 10 cm). Verifique se as cordas possuem o mesmo diâmetro e material; diferenças podem causar escorregamento.

Quando evitar ou limitar

Evite quando for necessário desmontar a união com frequência, pois o nó se aperta demais após carga. Também não deve ser usado se as cordas forem de materiais distintos ou com diâmetros diferentes.

4. Nó Prusik

O nó prusik é um nó de fricção usado como bloqueador ou sistema de segurança em cordas. É muito aplicado em subida e descida controlada, backup de resgate e sistemas de polias. Ele desliza livremente quando descarregado e trava automaticamente quando submetido a carga.

Técnica passo a passo

  1. Use uma corda auxiliar de diâmetro menor que a corda principal.

  2. Forme um laço com a corda auxiliar e envolva a corda principal com duas ou três voltas.

  3. Passe a extremidade do laço por dentro das voltas e ajuste o nó para que fique centrado e limpo.

  4. Teste o travamento puxando em ambas as direções.

Pontos de atenção

A diferença de diâmetro entre as cordas é essencial. Se forem muito próximas, o nó pode não travar. Se for muito grande, pode travar excessivamente e ser difícil de liberar. Verifique sempre o estado da corda e evite sujeira, umidade ou desgaste que reduzam o atrito.

Quando evitar ou limitar

Evite o uso em situações de queda livre ou alta velocidade, pois o nó pode não travar adequadamente. Não substitui equipamentos mecânicos de bloqueio quando exigidos pelas normas.

5. Volta do Fiel (Clove Hitch)

A volta do fiel é usada para fixar rapidamente uma corda a um ponto fixo, como um mosquetão, tubo ou estrutura metálica. É indicada para ajustes rápidos, pré-ancragens e situações de carga estática.

 

Técnica passo a passo

  1. Passe a corda em volta do ponto de fixação.

  2. Cruze a ponta sobre a corda principal formando um “X”.

  3. Passe novamente a ponta ao redor e insira por dentro do “X”.

  4. Ajuste e aperte.

Pontos de atenção

É um nó prático, mas pode escorregar se não houver carga constante. Deve sempre ser acompanhado de um nó de segurança adicional quando houver risco de variação de carga. Verifique se o ponto de fixação tem formato e diâmetro compatíveis.

Quando evitar ou limitar

Evite usar sozinho em ancoragens críticas ou cargas dinâmicas. Também não é indicado em superfícies irregulares ou muito lisas, onde o nó pode girar e afrouxar.

6. Nó Borboleta (Alpine Butterfly)

O nó borboleta é utilizado para criar um ponto intermediário de conexão em uma corda já tensionada. É útil para dividir cargas, criar derivações ou isolar uma parte danificada da corda.

Técnica passo a passo

  1. Faça duas voltas na corda formando um “8” horizontal.

  2. Puxe o centro da volta do meio por dentro do cruzamento do “8”.

  3. Ajuste o nó até que o laço fique centralizado e firme.

Pontos de atenção

É importante que o nó fique bem centrado e simétrico. As partes que entram e saem do nó devem permanecer paralelas. Após carga intensa, pode ser difícil de desfazer.

Quando evitar ou limitar

Evite em extremidades de cordas ou em cordas muito curtas. É projetado apenas para uso intermediário.

7. Nó Coelho (Double Figure Eight Loop ou Bunny Ears)

O nó coelho forma duas alças idênticas e é usado para distribuir carga entre dois pontos de ancoragem. É eficiente em sistemas que exigem redundância e equilíbrio de forças.

Técnica passo a passo

  1. Faça um nó em oito simples, mas deixe uma volta extra antes de completar o formato.

  2. Puxe duas alças ao invés de uma para criar as “orelhas”.

  3. Ajuste o nó para que as duas alças fiquem do mesmo tamanho.

  4. Fixe cada alça em um ponto de ancoragem.

Pontos de atenção

As cargas aplicadas nas duas alças devem ser equilibradas. Se um ponto de ancoragem for mais fraco, ele pode receber carga excessiva. Mantenha o nó simétrico e bem ajustado.

Quando evitar ou limitar

Evite o uso quando há apenas um ponto de ancoragem, pois o nó foi projetado para cargas divididas. Também não é indicado se os pontos tiverem ângulos muito abertos, o que aumenta a carga sobre as alças.

8. Nó UIAA (ou Nó Dinâmico)

O nó UIAA, também conhecido como nó dinâmico, é utilizado para realizar descidas controladas ou dar segurança a um usuário durante uma queda, absorvendo parte do impacto gerado. É amplamente usado em operações de resgate, escalada e segurança em altura, especialmente quando não há dispositivos de frenagem mecânicos disponíveis. Sua principal característica é permitir controle de fricção progressivo, funcionando como um freio improvisado com corda e mosquetão.

Técnica passo a passo

  1. Utilize um mosquetão em formato HMS (pêra).

  2. Passe a corda pelo mosquetão de forma que forme duas voltas, criando um “S” invertido.

  3. Gire uma das voltas e encaixe novamente no mosquetão, cruzando as cordas.

  4. Feche o mosquetão com trava e teste o movimento: a corda deve deslizar com resistência quando puxada.

Pontos de atenção

O nó UIAA trabalha com atrito, portanto gera calor sob uso prolongado ou carga intensa. É indicado apenas para situações em que o controle manual é constante. O operador deve manter sempre uma das mãos na corda de frenagem. Verifique se o mosquetão utilizado é adequado para cargas dinâmicas e se a trava está totalmente fechada. Cuidado com torções ou cruzamentos incorretos que podem comprometer a eficiência do freio.

Quando evitar ou limitar

Evite usar o nó UIAA em operações com carga estática prolongada, pois o atrito contínuo pode danificar a corda. Também não deve ser utilizado como ancoragem fixa ou em sistemas que exijam travamento completo sem ação manual. Em descidas longas, o uso de um equipamento específico de descida (como freios tipo oito ou ID) é mais seguro e ergonômico.

 

Resistência dos Nós em Trabalhos em Altura

Ao realizar um nó, a corda deixa de trabalhar de forma linear e passa a sofrer dobras e compressões internas que redistribuem as tensões entre suas fibras. Essa alteração estrutural reduz a resistência original do equipamento, tornando essencial conhecer a perda associada a cada tipo de nó.

Mesmo os nós mais bem executados provocam algum grau de enfraquecimento, pois as fibras externas do arco são tensionadas além do ideal enquanto as internas são comprimidas. O atrito, as microtorções e o desalinhamento das voltas também contribuem para essa perda.

Em média, os nós reduzem de 25% a 55% da resistência original da corda.

Por que ocorre perda de resistência

  1. Curvatura e compressão: quanto mais fechado o ângulo do nó, maior a concentração de tensão.

  2. Atrito interno: as voltas e cruzamentos aumentam o desgaste e o aquecimento das fibras.

  3. Distribuição desigual: partes diferentes da corda suportam cargas distintas.

  4. Aperto inadequado: nós mal “vestidos” criam pontos de esmagamento e folgas críticas.

Esses fatores explicam por que dois nós visualmente semelhantes podem ter resistências bastante diferentes.

Perda Média de Resistência por Tipo de Nó

Perda aproximada de resistência Considerações técnicas
Nó Oito (Figura-Oito) 25 % – 30 % Um dos nós mais eficientes em termos de resistência residual. Mantém boa integridade estrutural e permite inspeção visual simples.
Nó de Fita (ou Nó de Água) 40 % – 45 % Apesar de seguro para fitas, apresenta grande deformação e compressão nas bordas; deve ser bem apertado e usado apenas em fitas planas.
Nó de Pescador Duplo 30 % Altamente seguro para união de cordas; o atrito interno e o compactamento das voltas explicam a perda moderada.
Nó Prusik 35 % A perda está associada ao atrito constante sobre a corda principal e ao aquecimento em uso prolongado.
Volta do Fiel (Clove Hitch) 45 % Concentra tensão em uma única dobra; deve ser sempre acompanhado de nó de segurança complementar.
Nó Borboleta (Alpine Butterfly) 32 % Excelente distribuição de carga quando bem confeccionado; perdas moderadas.
Nó Coelho (Double Figure Eight Loop) 28 % Similar ao nó oito, porém com duas alças; mantém boa resistência se as cargas forem equilibradas.
Nó UIAA (Dinâmico) 35 % Trabalha por fricção; gera calor e desgaste com o uso repetido, reduzindo gradualmente a resistência.

Observação: Os valores são médias obtidas em testes com cordas novas de 10–11 mm em poliamida. Cordas desgastadas, úmidas ou contaminadas podem apresentar reduções ainda maiores.

Checklist de inspeção antes do uso

Antes de usar qualquer sistema de corda em altura, a equipe deve checar:

  • Verificar se a corda/fita está em condição boa (sem cortes, abrasão, desgaste)

  • Verificar que o nó escolhido é adequado para a aplicação (análise de carga, tipo de equipamento, risco de queda ou não).

  • Verificar que o nó está bem “vestido”: sem cordas cruzadas, com cauda visível, bem apertado.

  • Verificar que a ancoragem à qual o nó liga está certificada para a carga e uso esperado.

  • Confirmar que os backups necessários (quando aplicável) estão em uso

  • Registrar ou sinalizar as operações críticas: ancoragem com dupla verificação, união de cordas com testemunho, etc.

Ajuste de acordo com carga, tipo de operação e material

  • Para operações de queda / impacto, priorizar nós ou sistemas que admitam absorção ou dissipação de energia, revisar se o nó padrão suporta esse tipo de carga.

  • Para operações de resgate, subida ou descida controlada, utilizar nós de fricção ou backup adicionais (como o prusik).

  • Para junção de cordas ou fitas, considerar o diâmetro, material e compatibilidade antes de empregar o nó (como no pescador duplo ou nó de fita).

  • Verificar que a ancoragem estrutural (estrutura, conector, mosquetão) seja adequada e compatível com o nó e o sistema de carga. 

Integração com a operação da Atlas Safe

A Atlas Safe é especialista em soluções de segurança do trabalho em altura, inclusive em sistemas de ancoragem e linhas de vida. Para garantir que os nós utilizados na operação da equipe estejam alinhados com os equipamentos homologados, procedimentos internos e boas práticas, recomenda-se:

  • Utilizar somente cordas e fitas certificadas (ex: EN 354, EN 355, ANSI/Z359 conforme o país) junto com os nós padronizados.

  • Em contratos de prestação de serviços de montagem/inspeção de ancoragens, exigir que os técnicos comprovem competência em nós (por exemplo, checklist de nós executados corretamente).

  • Incorporar o tema “nós corretos” em placas, manuais de trabalho e procedimentos de segurança da empresa,  reforçando que “o nó certo salva vidas”.

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