A seleção de EPIs é um dos processos mais importantes para garantir segurança e conformidade num ambiente de trabalho, especialmente em atividades de trabalho em altura. Nesta análise, vamos destacar critérios técnicos, normativos e práticos que influenciam na escolha adequada de equipamentos de proteção.
1. Fundamentação legal e normativas aplicáveis
1.1. Compreendendo a NR‑6
A NR 6 define o EPI como “todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador para a proteção de riscos”. Ela estabelece que o empregador deve fornecer EPIs gratuitamente, em perfeito estado de conservação, funcionamento e adequação ao risco, sem que o custo seja repassado ao trabalhador.
A norma especifica ainda que:
- O EPI deve possuir CA (Certificado de Aprovação) emitido pelo Ministério do Trabalho, garantindo sua conformidade técnica e segurança.
- Cabe ao empregador exigir o uso, fornecer treinamento, orientar sobre guarda, manutenção e substituição imediata em caso de dano ou expiração.
- O trabalhador é responsável por usar corretamente, conservar, comunicar falhas e cumprir as determinações da empresa.
- Fabricantes/importadores devem manter a qualidade conforme o CA, instruir sobre uso e manutenção, e só comercializar EPIs com CA ativo e número de lote visível.
Em resumo, a seleção de EPIs deve contemplar conformidade legal (CA), funcionalidade, treinamento e responsabilidades claras, garantindo efetividade à proteção individual.
1.2. Integrando com outras NRs relevantes
A seleção de EPIs não pode desconsiderar as exigências específicas para atividades críticas, como trabalho em altura e canteiros de obras.
NR‑35 (Trabalho em Altura)
- Aplica-se a qualquer atividade realizada a mais de 2 m de altura, onde exista risco de queda.
- Exige análise de risco, planejamento, supervisão técnica, capacitação e autorização formal, além de procedimentos de emergência e resgate pré-definidos.
- Impõe o uso de EPIs específicos certificados, como cinturão paraquedista, talabarte (com absorvedor de energia), trava‑quedas, capacete com jugular e calçado antiderrapante – todos com CA vigente.
NR‑18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Ind. da Construção)
- Obriga o uso de EPIs em canteiros com edificações acima de 4 pavimentos ou 12 m de altura, incluindo a instalação de pontos de ancoragem fixos desde a fase inicial da obra.
- Determina que esses pontos sejam planejados, testados, certificados (por PLH) e integrados ao PCMAT/PGR.
Harmonização entre NRs
A compatibilização entre NR‑6, NR‑35 e NR‑18 assegura:
- Que o EPI não seja apenas fornecido, mas também adequado ao risco e contexto de uso.
- Que o planejamento do trabalho em altura inclua sistemas coletivos (pontos de ancoragem) antes de recorrer exclusivamente aos EPIs.
- Que atividades sejam executadas somente após autorização, treinamento e condições técnicas seguras.
A seleção de EPIs, portanto, deve seguir essa hierarquia: identificação de risco, uso prioritário de proteção coletiva, escolha técnica de EPIs compatíveis, acabamento normativo (CA e conformidade), capacitação e registro formal — tudo em conformidade legal e técnica.
2. Etapas da Seleção de EPIs
2.1. Mapeamento de riscos no Trabalho em Altura
O primeiro passo na seleção de EPIs é um levantamento detalhado dos riscos: biológicos, químicos, físicos, ergonômicos e mecânicos. Especialistas em segurança do trabalho devem identificar e quantificar esses perigos antes de selecionar equipamentos.
2.2. Escolha com base na adequação ao risco
Não se deve utilizar o mesmo tipo de luva para atividades distintas, por exemplo, manuseio de ácido e álcool requerem proteções diferentes. A seleção de EPIs adequada significa combinar proteção química, mecânica, térmica ou biológica conforme a necessidade.
2.3. Certificação, procedência confiável e Certificado de Aprovação (CA)
Todo EPI precisa de certificação e proveniência segura. Antes de mais nada, verifique se o equipamento possui o Certificado de Aprovação (CA), um selo obrigatório expedido pelo Ministério do Trabalho e Previdência (MTP) que atesta a conformidade com a NR‑6 e garante que o EPI passou por testes de durabilidade, conforto e eficácia.
- O CA é requisito legal para fabricação, importação, comercialização e uso de qualquer EPI no Brasil.
- Ele deve estar visível no equipamento (etiqueta, gravação ou embalagem), com número legível e informações sobre validade, geralmente de 5 anos, após esse prazo o certificado precisa ser renovado.
- Equipamentos sem CA ou com CA expirado não podem ser comercializados, mesmo que ainda possam ser usados até o fim da vida útil de uso, segundo o fabricante.
- O CA também serve como garantia de qualidade, visto que EPIs certificados reduzem falhas, aumentam a confiança do usuário e diminuem custos com acidentes .
Por isso, além de analisar a ergonomia e a compatibilidade, exija sempre o CA ativo na seleção de EPIs. Equipamentos de procedência duvidosa podem comprometer a segurança, gerar penalidades e colocar vidas em risco.
2.4. Ajuste e ergonomia
A ergonomia é central na seleção de EPIs. Equipamentos desconfortáveis comprometem o uso: luvas folgadas, capacetes mal ajustados ou cinturões apertados reduzem a segurança.
3. Critérios para a compra de EPIs no Trabalho em Altura
3.1. Avaliando custo-benefício
Custo não é sinônimo de qualidade, mas EPIs mais duráveis podem proporcionar melhor custo-benefício. É importante comparar valor unitário, durabilidade, custo de manutenção e descarte.
3.2. Fornecedor qualificado
A escolha de um bom fornecedor é essencial: reputação de mercado, atendimento técnico e suporte, qualidade dos produtos e pós-venda são fatores decisivos na seleção de EPIs .
3.3. Validação com testes e relatórios
Os EPIs devem vir com laudos de ensaio ou certificado Inmetro e passar por testes em campo para atestar sua eficácia no ambiente real de trabalho.
4. Exemplos de EPIs e aplicação específica para trabalho em altura
4.1. Cinto de segurança tipo paraquedista
É o EPI fundamental para qualquer atividade em altura. Deve ter pontos de conexão para retenção de queda, posicionamento e suspensão. Precisa estar ajustado ao corpo e ser certificado conforme a NR 35.
4.2. Talabarte de segurança
Utilizado para conexão entre o cinto e os pontos de ancoragem. Pode ser simples, duplo (em Y) ou com absorvedor de energia, dependendo da atividade e da necessidade de movimentação segura.
4.3. Trava-quedas e sistemas retráteis
Esses dispositivos limitam a queda e reduzem a força de impacto sobre o trabalhador. Devem ser usados sempre que houver deslocamento vertical, como em escadas fixas ou linhas verticais de vida.
4.4. Capacete com jugular de 4 pontos
Evita traumas em caso de quedas ou impactos e permanece firme na cabeça mesmo em movimentos bruscos. A jugular é indispensável em atividades acima do solo.
4.5. Calçado de segurança com solado antiderrapante
Fundamental para garantir a estabilidade do trabalhador em superfícies elevadas, andaimes e escadas. Deve oferecer boa aderência e, em alguns casos, isolamento elétrico.
4.6. Luvas de aderência e sensibilidade tátil
Embora não sejam sempre obrigatórias, ajudam na firmeza ao subir estruturas e manipular ferramentas. Devem permitir precisão sem comprometer a segurança.
5. Treinamento e conscientização
A seleção de EPIs vai além da escolha técnica e legal dos equipamentos: ela deve necessariamente incluir ações consistentes de treinamento, orientação e conscientização dos trabalhadores. O uso inadequado, parcial ou ausente dos EPIs compromete não apenas a segurança, mas também a eficácia do sistema de prevenção como um todo.
5.1. Capacitação para uso correto de EPIs
Para que a seleção de EPIs tenha impacto real na prevenção de acidentes, é imprescindível oferecer capacitação específica e periódica sobre:
- Forma correta de vestir e ajustar os EPIs, como cinturões de segurança, talabartes, trava-quedas e capacetes com jugular;
- Conservação e higienização, especialmente em equipamentos de uso prolongado ou que entram em contato com suor, poeira, graxas e agentes químicos;
- Armazenamento adequado, evitando exposição ao sol, umidade ou objetos cortantes, que podem comprometer a integridade do EPI;
- Identificação de avarias, como fissuras, desgastes ou costuras rompidas, que exigem substituição imediata;
- Descarte responsável, respeitando a vida útil indicada pelo fabricante e as diretrizes ambientais aplicáveis.
Além disso, o treinamento deve ser documentado, com lista de presença, conteúdo ministrado e responsável técnico. Isso fortalece o compliance da empresa e demonstra comprometimento com a gestão de segurança.
Um ponto frequentemente negligenciado é a individualização do treinamento. Nem todos os trabalhadores têm o mesmo nível de familiaridade com os EPIs. A seleção de EPIs deve considerar, portanto, o perfil da equipe, adaptando a comunicação e a linguagem para que a instrução seja compreensível e prática.
5.2. Política disciplinar e cultura de segurança
A eficácia da seleção de EPIs também está diretamente ligada à disciplina e à cultura de segurança no ambiente de trabalho. Fornecer o EPI e capacitar o trabalhador são apenas partes do processo. É essencial garantir que o uso seja:
- Constante (durante toda a jornada de exposição ao risco);
- Correto (usado conforme a função e o tipo de risco);
- Supervisionado (com registros e responsabilização).
Para isso, a empresa deve implementar uma política clara de obrigatoriedade, com:
- Regras de conduta bem definidas;
- Monitoramento ativo por líderes e técnicos de segurança;
- Medidas corretivas e disciplinares graduadas (advertência, suspensão etc.), em caso de uso inadequado ou recusa sistemática.
Uma seleção de EPIs eficaz, nesse sentido, é aquela que é acompanhada de uma estratégia de gestão de pessoas, voltada para o engajamento, o pertencimento e o reforço contínuo de atitudes seguras.
6. Monitoramento, manutenção e renovação de EPIs
6.1. Inspeção periódica
Epís devem ser inspecionados regularmente quanto ao estado de conservação, limpeza, desgastes e substituídos sempre que necessário, conforme orientação do fornecedor.
6.2. Registro e controle de validade
Manter registro (data de entrega, lote, validade) garante rastreabilidade e permite reposição antes da expiração ou falha.
6.3. Feedback do usuário
Incentivar usuários a reportarem desconforto, dificuldades ou falhas no EPI fornece dados reais para melhoria contínua na seleção de EPIs.
7. Integração com proteção coletiva
A seleção de EPIs deve considerar estratégias para reduzir riscos através de EPCs (Equipamentos de Proteção Coletiva), como guarda-corpos, sinalização, isolamento acústico, antes de recorrer exclusivamente aos EPIs.
8. Especificidades na seleção de EPIs para trabalho em altura
A escolha de EPIs para atividades em altura exige critérios técnicos rigorosos, alinhados ao cenário real da operação. Não basta apenas cumprir a NR‑6 ou a NR‑35 — é essencial entender o tipo de atividade, a duração, o local de trabalho, a interface com sistemas coletivos e o nível de exposição ao risco de queda.
8.1. Compatibilidade entre sistemas
Todos os EPIs usados em altura devem funcionar de forma integrada. O cinturão paraquedista, o talabarte com absorvedor, o trava-quedas e os conectores precisam estar certificados, compatíveis entre si e adequados ao ponto de ancoragem disponível.
Exemplos:
- Trava-quedas deslizante não deve ser usado com talabarte fixo ou absorvedor adicional, pois pode interferir na frenagem correta.
- Cinturões paraquedistas com múltiplos pontos de ancoragem (dorsal, esternal, lateral e ventral) devem ser escolhidos com base na atividade específica, como acesso por cordas, posicionamento ou restrição de movimentação.
8.2. Considerar o fator de queda
O fator de queda é um conceito técnico que influencia diretamente a seleção dos EPIs. Ele determina a intensidade do impacto gerado em caso de queda. Quanto maior o fator, mais exigido será o absorvedor de energia.
Para isso, o projetista do sistema de proteção deve:
- Garantir o menor fator de queda possível (idealmente próximo de 0).
- Considerar o comprimento do talabarte, o ponto de ancoragem acima do usuário e o espaço livre abaixo.
- Selecionar absorvedores compatíveis com a força de impacto esperada (< 6 kN).
8.3. Escolha do talabarte correto
Os talabartes podem ser simples, duplos, com absorvedor integrado ou com gancho escamoteável. A escolha correta depende de:
- Tipo de deslocamento (vertical, horizontal, transições).
- Frequência de movimentação entre pontos.
- Espaço para abertura do absorvedor.
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O uso de talabartes retráteis (dispositivos de retenção com linha auto-retrátil) é indicado para movimentações horizontais ou em plataformas móveis, desde que sejam homologados para esse uso.
8.4. Escolha e instalação de pontos de ancoragem
Mesmo sendo um EPC, os pontos de ancoragem influenciam diretamente na seleção de EPIs. Eles devem:
- Ser dimensionados por profissional legalmente habilitado (PLH).
- Possuir resistência mínima de 15 kN (ou conforme o sistema usado).
- Ser compatíveis com os conectores dos EPIs (mosquetões, ganchos).
- Estar identificados e devidamente sinalizados.
A correta ancoragem garante a eficácia do sistema de retenção e evita que o trabalhador ultrapasse zonas de risco não protegidas.
8.5. Considerar o ambiente de trabalho
Ambientes externos, úmidos ou quimicamente agressivos exigem EPIs com:
- Materiais resistentes à oxidação, como aço inox ou alumínio anodizado.
- Fitas em poliéster tratadas contra raios UV.
- Conectores com travas automáticas que evitem abertura acidental com detritos ou graxa.
A durabilidade dos EPIs depende diretamente da escolha adequada ao clima, temperatura e exposição do local.
Conclusão
A seleção de EPIs adequada é um equilíbrio entre conformidade normativa, avaliação de riscos, ergonomia, custo-benefício, procedência confiável e treinamento eficaz. O objetivo é garantir que cada trabalhador receba o EPI certo, no tamanho ideal, certificado, confortável, com manutenção e conscientização adequadas. Esse cuidado reduz acidentes, melhora a produtividade e reforça a cultura de segurança.
Para Atlas Safe, focar em uma gestão completa do processo de seleção, treinamento e monitoramento é a garantia de oferecer EPIs que protejam vidas e respeitem a legislação — reforçando sua reputação de liderança em segurança no trabalho em altura.

